sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Qual é o cheiro do Amor?



Hoje eu estava lendo sobre a Lei do Retorno e assisti a um vídeo emocionante sobre como um homem ajudou uma mulher com seu carro numa estrada deserta e não aceitou o dinheiro que ela lhe ofereceu ao final, mesmo precisando, mesmo vendo a carteira dela cheia de dinheiro, ele disse apenas: “Todos nós passamos por isso um dia.”
A mulher, com seu carro arrumado, parou em um restaurante de estrada pra comer e foi atendida por uma jovem, grávida e que precisava muito pagar uma divida pra não perder sua casa, seu marido procurava emprego desesperadamente, mas não conseguia.
Vendo a situação da moça, quando a mesma foi buscar o troco do almoço, a mulher saiu do restaurante deixando um bilhete sobre a mesa para a garçonete grávida. O bilhete dizia “Aceite este presente, você está precisando. Todos nós passamos por isso um dia.” Embaixo do bilhete havia a quantia exata que pagaria a divida da casa.
Ao chegar em casa entusiasmada, foi contar para o marido o ocorrido. Eis que o marido era justamente o homem que ajudara aquela mulher na estrada.

Mas essa história só me fez lembrar de outra, acontecida comigo a muitos anos atrás, quando eu ainda era uma menina, sem nenhum conhecimento da vida ou das responsabilidades que enfrentamos no dia a dia.
Minha mãe era uma pessoa trabalhadora e muito dedicada à família, era professora, trabalha um período do dia na escola e quando chegava em casa lidava com a limpeza e arrumação da casa, da roupa de todos, dela, do marido e quatro filhos, contando apenas com a ajuda da minha vó, mãe dela. Todos os dias ela acordava cedo e trabalhava exaustivamente para nós, por nós.
Mas eu, como qualquer criança, não enxergava isso na época e, além disso, ainda era mimada e tinha nojo de algumas coisas, entre elas do cheiro de peixe cru, de cebola e de água sanitária.
E eram esses os cheiros que eu sempre sentia na minha mãe, na maioria das vezes. Até que um dia ela estava fazendo o almoço e eu pentelhando, como qualquer criança, e ela ao me chamar a atenção segurou meu pulso para que eu parasse oque fazia de errado. Lembro-me de puxar meu braço com força e repudiar o toque da minha mãe por causa do cheiro que ela tinha nas mãos. Claro que ela me repreendeu e castigou pela mal criação, mas foi a minha atitude imatura e mesquinha que nunca esqueci.
Ainda assim, nunca me desculpei com ela por aquilo, e foi no dia que a perdi, muitos anos mais tarde, que essa atitude me voltou à memória, insistentemente, me fazendo me corroer de remorso.

Convivi com pai, avó, tios fumantes, e nunca o cheiro de cigarro que vinha deles me incomodou, cresci sentindo esse cheiro e ainda hoje, quando sinto me trazem boas lembranças das pessoas. Digo quando sinto, porque como fumante que me tornei, se torna mais difícil de distinguir esse cheiro hoje.
Até que com o tempo os danos causados pelo cigarro se fizeram mais evidentes e muitas pessoas, inclusive meu pai, deixaram de fumar. E todos os ex-fumantes e muitas outras pessoas nos dias de hoje, aprenderam a repudiar o cheiro que fica na pessoa que fuma.
O cheiro que exala de mim mesma a maior parte do tempo, pessoas que me são queridas muitas vezes me falam e reclamam do meu cheiro, o cheiro do cigarro, outras não comentam mas se afastam para não sentir. Pretendo parar de fumar também, não só pelo mau que causa a saúde mas para não incomodar ninguém com esse cheiro, que até mesmo eu aprendi a não gostar.
Mas as situações que passei e passo por causa dele, me causam angústia e tristeza e me fazem imaginar como minha mãe se sentiu naquele dia, quando eu gritei com ela e repudiei seu toque e sua presença por causa do cheiro que sentia nela.

Hoje vejo que o meu cheiro é o cheiro do egoísmo, já que fumar só traz prazer a mim mesma e é um prazer mundano, ilusório e temporário.

Já o cheiro da minha mãe, era o cheiro do amor!!!
Do amor com que ela se dedicava a nós, do amor com que ela fazia a comida que nos alimentava, do amor com que ela lavava nossa roupa para que estivéssemos sempre limpos e cheirosos, do amor com que ela limpava e arrumava nossa casa, do amor desprendido com que ela cuidava de cada detalhe para nos fazer felizes.
Só sei que hoje, depois de quase dezoito anos sem ela, eu daria tudo para sentir o cheiro dela mais uma vez... E tenho certeza que ela já me perdoou por aquele dia, ainda que eu mesma jamais tenha me perdoado. Principalmente hoje em dia, que sei oque ela sentiu, pois a vida, a Lei do retorno, me fez sentir o mesmo...

Gisleine Gouveia

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